Professores bué primários
Foi-me dito por alguém dentro do meio de ensino que a designação de professor primário está completamente desactualizada e que eu sou extremamente desagradável.
Dito isto fui-me tentar instruir acerca do assunto, no fundo, não para deixar de ser desagradável, mas para designar as pessoas pelos nomes. Infelizmente não conheço nenhum professor primário que me ajude a estudar ou a procurar informação valiosa que me auxilie a moldar o meu espírito e a construir e solidificar uma cultura geral do mundo particular em que vivemos. Assim tentei as duas opção mais viáveis:
– a enciclopédia livre, o espaço rede-global www ( dabliu, dabliu, dabliu)
– a escola da vida, um quarteirão abaixo da rua de onde eu vivo;
Se numa apenas soube que foi mudada a designação de professor primário para professor do ensino básico (uuuuhhh!), noutra consegui saber muito mais.
Então a designação professor primário continua a existir… mas ao contrário do que eu pensava e atribuía, esses não são aqueles que tentam que as crianças aprendam na escola, desde o mais elementar alfabeto até a comer de faca e garfo e a não dizer:
Ché! A stôra às vezes até parece que está a tentar ensinar!
Isso agora é da competência dos professores do ensino básico!
E o que aconteceu aos professores primários? Ninguém sabe ao certo. Bem, há quem diga que eles andam aí, por todo o sistema de ensino, desde o infantário até às faculdades. Só que por vezes andam mascarados de professores normais. Mesmo de professores do ensino básico. Mas como já disse, ninguém sabe deles, parece que desapareceram como os educadores de infância!
– Já agora stôra, como escrevo W?
– Como na internet, www?
– Não, como no meu nome, Welson.
– Já te disse que isso é estrangeiro, escreves com “U”.
– Então como escrevo WC. É que estou a ficar com vontade para lá ir.
– Escreve, «Casa-de-banho».
– Assim não é um bocado comprido para quem está aflito stôra?
– Não Uelson, acredita que com a tua cor de pele tem que ser casa-de-banho.
Seus diabetes II
Parece que as reformas na educação que o governo está a pôr em marcha já estão a dar os primeiros frutos!
Frutos, frutos não dão, pois neste momento as reformas são no ensino e não na agricultura. É que parece mesmo que além da melhoria nas condições de ensino, são os próprios alunos que se empenham mais e até se embrenham em actividades extra-curriculares onde a culinária está no topo da lista. No “meu” tempo a única actividade extra-curricular que havia era uma balda às aulas. E das duas, uma, ou um joguinho de bola ou uma mesa de ténis de mesa (vulgo, ping–pong ) em que nos tornava-mos mestres no “puxanço“, o que quer que isso fosse. Agora transformam-se em verdadeiros «mestres da culinária» e deliciam manifestações escolares com os seus dotes. Que o diga a ministra ou os seus secretários que quase tiveram a experimentar bruchettas de omoleta com tomate aos bocados nesta ultima semana.
Nem sabem o que perderam! Eles estão a investir na sua educação…
Outro dos campos em que parece que rapidamente os alunos estão a progredir a olhos vistos, perdão, a ouvidos ouvidos, é o campo musical. Aliás, é o próprio Secretário do Estado que faz publicidade a essa progressão. Ele acha que cada vez mais os alunos estão a ser «instrumentalizados» e que até o fazem por SMS! Não sei o que vocês acham, mas eu! … acho espectacular. É que não sei se vocês sabem mas informaram-me há uns dias, que toda gente sabe o quanto é dificil construir toques musicais com o telemóvel… mesmo que ele seja polifónico. Assim, qualquer dia, até sabem escrever as notas do hino! Depois quando estiverem na universidade aprendem a letra!
Mas, não há bela sem cotão e existe algo que estou em completo desacordo, e isso, é o novo estatuto do aluno. Já lá vai o tempo em que para uma bela actividade extra-curricular da balda, não era necessário marcar nada por sms, não eram necessárias 200 pessoas para nos sentirmos justificados e principalmente, não tinhamos que ter umas aulas ou fichas de recuperação! Onde já se viu estar na escola e realmente estar preocupado em aprender? É que esta decisão vai contra todo o propósito do acto. Se o aluno quer faltar é porque tem muita vontade de ir exprimir a sua individualidade… ao ar livre.
– Olhem só aquele betinho, andou a faltar às aulas só para ter mais uns testes e umas aulas de recuperação!
Não deixem o aluno perder o seu estatuto!
Lutem por uma balda melhor!
Oh stôr!
– Oh stôr!
– Diz Mané.
– Não se vai esquecer da avaliação na 5ª feira, pois não?
– Não pode ficar para outro dia?
– Stôr! Já tinhamos marcado isso há duas aulas atrás!
– Eu sei Mané, mas a Joana pediu-me, porque a mãe dela só me pode vir avaliar nesse dia.
– Mané tens que deixar. A minha mãe na 4ª já vai avaliar se a professora de História tem um bom ponto-cruz e isso ainda demora um bocado. Não vai ter tempo para tudo.
– Só isso? No outro dia a minha mãe que é ministra conseguiu avaliar praí uns 10 mil professores. Isto só até à hora do jantar!
– Enquanto fazia o jantar?
– Não. O meu pai é que faz. Ele diz que ele é a mulher lá da casa. Acho que o professor também o podia avaliar um pouco…
– Mas Mané, ela vai avaliar também o professor de Inglês e se a professora de Matemática pode ir connosco na visita de estudo. Por isso tem mesmo que ficar para 5ª.
– E como fazemos isso agora stôr? É o único dia em que pedimos comida de fora e o meu pai pode vir à escola.
– E não podes trazer umas fichas de avaliação e eu faço isso em casa?
– Oh! (th!) …É que a minha tia, irmã do meu pai, também vinha com ele.
– Mas olha Mané, não sei se estou muito interessado em ser avaliado pela tua tia… já te falei em trazeres a tua irmã mais velha. Gostava de avaliá-la melhor.
– Mas stôr, quanto à minha irmã digo-lhe já que nem a precisa de avaliar. É mesmo pura*!
* pura