Senhor condutor
Não conheço nenhum motorista de autocarros. Nem nenhum motorista de transportes públicos. E muito menos aquele ser híbrido que pertence aos dois grupos, o chamado motorista da «Carris» ou Vanessa para os amigos. Porém estou bastante solidário com o trabalho deles. Mais! Estou ao mesmo tempo deslumbrado, deslumbrante e curioso com o trabalho deles. Penso que a razão por detrás desta situação se chama… algália! É que só por uma vez vi um motorista a encostar o seu «amarelo» (ex-laranja) e a sair disparado para as urtigas. Fazer o quê, não sei. Mas imagino. Não deveria ter colocado a álgalia naquele dia ou poderia ter sido cortado ou por uma pisadela no tubo ou por ter ficado trilhado na porta. Claro que também poderia ter ido fazer um “sudoku” ou tirar «macacos» do nariz por não se sentir confortável por estar a fazê-lo à frente de um público tão difícil e hóstil como o é, o constituído por utilizadores de transportes públicos. Neste caso, autocarros. Imaginem só o senhor condutor fazer a sua bola de muco nasal, enrolar bem e atirar pela janela, no meio de um trânsito automóvel infernal, acertar na cabeça do careca que ia a guiar descapotável ao seu lado. Certamente isto poderia originar um motim. Sim, se os utentes do seu autocarro tinham pedido expressamente para acertar no decote da loura, é natural que isto gerasse um motim. Ou isso ou o motorista teria que voltar a tentar até acertar!
Também este ser híbrido recebe o meu louvor com a forma diplomática como recebe os utentes no «seu» veículo. É que nos autocarros existe alguma confusão na altura de entrada. Parece que ninguém gosta de andar neles mas quando eles chegam toda gente quer ser o primeiro! Principalmente porque ninguém sabe quem chegou antes ou depois de quem. Felizmente já inventei uma maneira de se entrar pacificamente no autocarro. Fixar quem chega a seguir a nós à paragem de autocarro. Porque não fixar quem lá está? Bem, seria muito dificil fixar as 23 pessoas anteriores, a não ser que elas fossem uma equipa de polo aquático italiana, à espera do autocarro para a piscina municipal. Aí, acho que até o mais idoso senior conseguiria lembrar-se e contar todos os pequenos sinais e conjuntos de sardas de cada uma… Assim, o melhor será fixar só uma pessoa, quem chegou a seguir.
– Eu estava antes deste senhor.
– Entre, entre. E eu estava antes daquele. Logo antes de vocês os 3.
– E eu estava antes do senhor.
– Está a insinuar que foi o primeiro? Que provas tem?
– Provas? Em 87 anos de vida nunca precisei de dar provas de nada!
– Se calhar esse é o problema. Se tivesses que dar, provavelmente já teriam descoberto que não és de confiança, velho!
– Estás a chamar velho a quem, rufião? Olha que ainda tenho forças para te dar com a bengala!
– Posso fechar a porta do autocarro ou ainda se pensam sentar num dos 37 lugares ainda disponíveis, incluíndo 4 lugares para grávidas, deficientes ou velhos… (quero dizer, idosos) idosos!? Tenho que me despachar, porque ainda vou ter de mudar a algália. ENTRAM OU FICAM?
Mais! Nunca se sabe com tanto tarado que anda por aí, quando um deles pode por uma bomba no autocarro, ficando activa quando este passa acima dos 80 km/hora e explodindo se ele alguma vez abrandar a velocidade inferior a… digamos, mais ou menos… uns… 50 milhas/hora… isto dá… mais ou menos 80km/hora. Imaginem só! Sei que será dificil de conceber, mas há por aí muita malandragem, muita sacanagem e muita taradagem! Por isso também e muito mais, esse ser híbrido tem a minha admiração. Pode ficar com ela, que eu não sou materialista. Nem vingativo.
(n.d.b. Dedico este artigo àquele senhor motorista que quando eu tinha 12 anos não abriu a porta na paragem onde eu estava e seguiu em frente. Se a equipa toda de râguebi do Belenenses, os alunos da escola primária da Ajuda, grande parte dos elementos do lar «dona Maria da Piedade», o staff composto por secretários do Estado e secretárias do Estado do Ministério da Economia e mais umas 20 ou 30 pessoas cabiam num autocarro com lotação para 33 utentes sentados e 40 em pé, também eu caberia!!! Ora, eu tinha cerca de 52,3 kg. Se ele parasse eu tinha entrado pela janela e ficava a fazer um crowd surf até ter espaço para poisar! Como não parou, apanhei uma chuvada e fiquei constipado durante 2 dias. Dedico este artigo a esse senhor.)
Tele-transporte
Nos transportes públicos em horas de grande fluxo populacional deveria ser permitido fumar. É que além de libertar o stress à imensa população de fumadores compulsivos, também iria aliviar um pouco o cheiro a perfume com que muitas pessoas tomam banho de manhã! Mas porque não tomam banho com sabão azul-e-branco ou gel de banho? Talvez por se sentirem sem tempo… tanta tarefa para fazer! Vestir os filhos, aquecer o leite, ver a meteorologia, espalhar o gel pelo corpo e respectivas cavidades. Entre outras. Sexo matinal? Disparate, as pessoas não tomam banho e iam perder tempo com essas brincadeiras. Será que já pensaram em acordar 15 minutos mais cedo, tomar banho, comer um belo pequeno almoço, ir com calma e sem tanto stress para o trabalho, chegar com um sorriso e ser mais produtivo? Pois, talvez não queiram ser mais produtivos… já me disseram que há pessoas assim!
– Podia abrir a janela? Está muito abafado aqui.
– Desculpe, mas eu estou engripado. Importa-se de fechar o vidro?
– Está muito calor, quase não consigo respirar! Por favor, abram a janela!
– Estou a morrer! Preciso de mais oxigénio para combater a apatia!
– Eu morro logo que sentir uma aragem, vento brando ou uma leve agitação do ar!
- ... estação de Sete Rios. Ligação ao Metro,
Carris, mesquita, Jardim Zoológico e casa
da Joana...
– Vou morrer! Vou morrer! Vou morrer!
Por favor,
deixem de se preocupar com o meio ambiente e com a vida saudável das gerações futuras em que estão incluídos os vossos filhos e LEVEM O CARRO para o trabalho! Assim podem roer ou cortar as unhas, inclusivé as dos pés, podem acabar de aparar a barba com a máquina, fazer o nó da gravata, calçar meias, podem falar alto ao telemóvel, podem pôr rímel, podem pôr batôn, podem ouvir música alto e bom som dependendo da qualidade das colunas, coçar o que quiserem, podem tossir e cuspir, podem arrotar, podem abrir ou fechar a janela, podem ligar ou desligar o ar-condicionado, dizer asneiras, fazer asneiras, trocar de sapatos…
até se podem sentar no lugar que quiserem!
Só não podem ler o jornal do vizinho.